O medo é um sentimento natural para proteção do ser humano e pode ser entendido como um sinal natural diante de uma ameaça real. Mas o medo pode avançar de nível e se transformar em fobia e gerar angústia. Assim, a angústia pode surgir quando se vive uma situação real ou imaginária, associada a fatos e questões psicológicas ou ao temor de perdas.
Para ilustrar melhor, lembremos das pessoas que viveram no tempo das grandes guerras mundiais. Soldados que participaram ativamente de confrontos diretos, que presenciaram a morte brutal de seus amigos, homens e mulheres que passaram por muitas privações, frio, fome, dores físicas e psíquicas. Familiares que perderam seus entes queridos, suas casas e economias. Essas pessoas foram marcadas pela angústia de perder e transmitiram suas histórias às novas gerações.
Pensemos também em outro grupo, de nosso tempo, como os que vivem nas grandes cidades, onde vivenciam o terror da violência. Esses também experimentam muitos conflitos, onde se perde em qualidade de vida e se vive com medo de sofrer ataques, de se perder a vida, os familiares ou seus espaços.
O pânico se instala quando há uma situação traumática real ou quando se recebem informações do seu meio social a respeito daquele objeto ameaçador. Tais fobias podem ser provenientes de experiências que ocorreram consigo, a outros ou quando a pessoa começa a pensar que, a qualquer momento, pode sofrer ataques daquele mesmo motivo. Há alguns tipos de fobias que têm relação com questões inconscientes, substitutos de outros medos.
Diante da situação real sempre tentaremos fugir do que nos ameaça. É uma defesa natural para evitarmos um sofrimento maior. Mas, e quanto as fobias, que se transformam em angústia e distorcem a realidade? Não nos impedem de termos uma vida melhor?
Na verdade, todo ser humano tem desafios diários a enfrentar e o medo sempre estará presente, pois, como vimos, existe para nossa proteção. Porém, o medo que se transforma em pânico paralisa, impede o crescimento e novas realizações. Perde-se, muitas vezes, a razão e o senso de realidade, pois sua referência é a vivência traumática em sua vida, de familiares ou de um grupo.
É preciso analisar bem do que se trata o medo. Há ameaça real para sua história? O que escutou das experiências de outras pessoas, de seu meio social?
Há pouco tempo vivenciamos o medo e o pânico que cresceu em vários países do mundo, pela ameaça do risco de se contrair o “Coronavírus” e com ele perdemos pessoas queridas, economias, convívio social. Estes temores são compreensíveis, pois assustam e tocam em áreas humanas sensíveis tais como o distanciamento social, ser contaminado por uma doença mortal, sofrer rejeição, preconceito, ansiedade, solidão e depressão.
E outros medos avançam em nossa sociedade que seguem a mesma linha para entendimento. Na verdade, fugimos do desprazer da perda, da aflição do luto, do horror da injustiça. E quando exergamos essas ameaças de forma exagerada, distorcemos a realidade e avançamos para fobias que paralisam a vida.
Mas, como podemos trabalhar o medo para vivermos melhor? Como suportar a realidade e situações que geram pânico? Há algo de maior força em nós, a necessidade de sobrevivência e o desejo de viver.
Se soubermos nutrir nossos pensamentos com esse intenso impulso de viver, é possível enfrentarmos momentos difíceis. Falar com alguém, com profissionais, com grupos de pessoas também é importante. Quem conhece a história da Jornada do Herói*, sabe que ele tem medo, mas este não o impede de avançar em sua jornada. Essa foi a trajetória na vida de muitos heróis que conhecemos ao longo da história.
É a pulsão de vida que surge e o poder de raciocinar, de se defender, de manter o equilíbrio emocional, de se reinventar, que garantem a possibilidade de enfrentamento, de maneira inteligente e prudente. E mesmo diante de possíveis dificuldades, sigamos na esperança de dias melhores!!!
*Vídeo (A Jornada do Herói - Storytelling: Como Contar Histórias)
Freud, S. "Inibições, sintomas e ansiedade", 1927, Edição standard das obras completas de Sigmund Freud.
Comments